terça-feira, 13 de outubro de 2015

A Espuma dos Dias (vii)

Terça-feira. 13/10/2015. 17:38

Uma gaivota voava voava, asas de vento, coração de mar
– Estás maluco ou quê?
Como ela, somos livres, somos livres de voar
– Desculpa lá!
– Temos de entrar no espírito da coisa, Pedro.
– “Somos Livres”?!
– Parece-me que vamos começar a ouvi-la muitas vezes, à Gaivota. Temos de estar preparados.
– Sempre é melhor que o Grândola.
– É capaz.
– Eu com essa ou com o Grândola posso bem. Agora o que me lixa é que ainda estou para perceber é como é que nos deixámos cair nesta situação. Porque é que o Cavaco se pôs a inventar?!
– Tu não lhe disseste?
– Disse. Já te disse que sim. Disse-lhe claramente que não entendia a razão para alterar os procedimentos normais e constitucionais. Que faria o que ele me disse, não sabia bem como mas faria. Mas disse-lhe que não era a favor, ele devia ouvir todos os partidos e…
– Os gajos foram rápidos e nós a apajar o Aníbal, armados em parvos!... O Costa é um macacão e ninguém me tira que o engenheiro está por trás disto tudo.
– E se ele os tivesse ouvido logo, os gajos ficavam condicionados, assim…
– Assim, aqui estamos nós a caminho de ver a fronha do Costa, o arzinho maniento do Pedro Nuno, o ar apalermado do Centeno e a pose de estadista de meia-tigela do César, que só apetece é esmurrar. Era como se o Pedro Guerra se pusesse calado a olhar para nós, com aquele ar de superioridade imbecil…
– O Pedro Guerra não é teu? Ele não é assessor do vosso grupo parlamentar? Não foi teu assessor no Ministério da Defesa?
– Sim mas isso não invalida a comparação. Ou achas que invalida?
– Eu nem o conheço.
– Vamos lá, então.
– Onde?
Uma papoila crescia, crescia, grito vermelho num campo qualquer. – Os dois em coro: – Como ela somos livres, somos livres de crescer.


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