Sexta-feira, 9/10/2015. 19:10
Com um sorriso de orelha a orelha, o
engenheiro aperta a mão ao advogado e lança-lhe:
– Tem estado a gostar da semana, doutor?
O advogado hesita mas o sorriso do
cliente não lhe deixa margem de manobra: tem de responder.
– Está a falar do que eu estou a pensar?
– pergunta, com ar conspirativo.
O engenheiro responde-lhe que sim com um
ligeiro aceno e indica-lhe o caminho da sala com um largo movimento do braço
direito.
O advogado segue para a sala, encaminha-se
em silêncio para a cadeira que o cliente lhe destinou e questiona logo que se senta:
– O engenheiro é que está por trás destes
últimos desenvolvimentos?
O engenheiro não cabe em si de
auto-satisfação mas contém-se, a custo, e segue outro caminho:
– E o Marcelo, viu?
– Não, não vi, estava a vir para aqui.
– O sacana está a perceber uma parte dos
acontecimentos e viu que tinha de avançar depressa. – O engenheiro respira
fundo e perde o sorriso por um instante. – E foi rápido, o sacaninha.
Surpreendeu-me. Não estava à espera que o gajo fosse tão decidido. – O
engenheiro recupera o sorriso. – Mas ele ainda que não perceba tudo o que se
está a passar e as forças que se estão a mover, percebeu que há uma vaga de
fundo para uma coisa qualquer. Que se está a criar uma realidade inesperada e a
que ele não pode reagir, nem comentar.
– O engenheiro acha que o anúncio da
candidatura é ele a resguardar-se?
– Não acho, tenho a certeza. O tipo é
esperto, doutor, lê bem o ar dos tempos, a espuma dos dias e não se podia
deixar enredar em comentários ou em posições que, mais à frente, o
desfavorecessem. Preferiu dar o salto e ficar por cima da carne seca. Ninguém o
pode vir a acusar de tacticismo, ainda que isso seja a sua maior culpa.
– Antecipou-se…
– Antecipou-se a tudo e a todos. Foi o
mais esperto. Mandou um sms ao Passos às seis da manhã. Veja bem, às seis da
manhã. Às seis da manhã já ele estava a pé há duas horas e já tinha chegado à
conclusão que não sabe o que se vai passar mas que se vai passar qualquer coisa
e que não vai conseguir saber em tempo útil. É só a certeza que ele tem mas
percebeu que não podia esperar. “Chapeau”, Professor, “chapeau”.
– Mas não foi para isso que o engenheiro
trabalhou…
– Eu estou a trabalhar em muita coisa mas
nessa não. – O engenheiro ri. – De qualquer maneira, se quer saber, isso também
tem algum interesse. Nem que seja por distrair os direitolas. Quando eles derem
pelo molhe de bróculos em que o Aníbal os meteu, já vão tarde. – O engenheiro
dá uma gargalhada. – Muito tarde!
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