sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Espuma dos Dias (ix)

Segunda-feira. 19/10/2015, 19:33

– E o país?
– O país?
– Sim, o que acontece ao país com o Costa?
– Como assim, o que acontece ao país?
– Se o Costa for primeiro-ministro, achas mesmo que o país vai ficar melhor?
– Fica melhor do que se a direita continuar a governar, qual é a duvida?
– Ele não vai nacionalizar nada. Não vai combater os interesses instalados, aliás, ele é a ponta do iceberg dos interesses instalados. Não vai combater a Europa, o Tratado Orçamental, a austeridade. Não…
– Claro que não, ninguém está à espera disso. Ele não vai fazer nada disso mas também não vai fazer nada em sentido contrário.
– Então?
– Então, então é que passamos a estar em jogo. Deixamos o banco e vamos a jogo. O PS vai dar-nos o estatuto que nos falta: podemos estar no governo. Podemos ser ministros. Deixa de haver voto útil à esquerda. Passamos a ser mainstream sem deixar de ser quem somos.
– Mas para isso o governo PS vai ter de cair para o ano que vem.
– E vai cair. Não vai ser carne nem peixe. Vamos todos cozê-lo em lume brando…
– Mas não o podemos fazer cair.
– Por isso é que o Marcelo tem de ganhar.
– O Marcelo?
– O Marcelo.
– …
– Se o Marcelo ganhar, a direita tem legitimidade para dizer que o país mudou, que a esquerda precisa de ser re-legitimada, que precisamos de ir para eleições. Nessa altura, temos de pedir uma clarificação ao PS: ou bem que governa com a esquerda à esquerda ou bem que nos esquece, porque não cumpriu os compromissos e anda a ziguezaguear e a levar o país para o pântano.
– Mas para isso o país também vai ter de estar pior.
– Isso é evidente e vai estar mas a culpa não vai ser nossa. É que, entretanto, nós fomos dignos representantes da esquerda, não capitulámos, nem tirámos o tapete ao Costa, ele é que não foi quem diz ser. Quis ser primeiro-ministro, para quê? Quis unir a esquerda e, entretanto, foi governando sem rumo. Nas próximas eleições comemos-lhe entre mais 5% a 10% do eleitorado à esquerda. Há muita gente que ainda não vota em nós mas que, daqui a seis, oito meses, não tem razões para não o fazer.

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