Segunda-feira. 19/10/2015, 19:33
– E o país?
– O país?
– Sim, o que acontece ao país com o
Costa?
– Como assim, o que acontece ao país?
– Se o Costa for primeiro-ministro, achas
mesmo que o país vai ficar melhor?
– Fica melhor do que se a direita
continuar a governar, qual é a duvida?
– Ele não vai nacionalizar nada. Não vai
combater os interesses instalados, aliás, ele é a ponta do iceberg dos
interesses instalados. Não vai combater a Europa, o Tratado Orçamental, a
austeridade. Não…
– Claro que não, ninguém está à espera
disso. Ele não vai fazer nada disso mas também não vai fazer nada em sentido
contrário.
– Então?
– Então, então é que passamos a estar em
jogo. Deixamos o banco e vamos a jogo. O PS vai dar-nos o estatuto que nos
falta: podemos estar no governo. Podemos ser ministros. Deixa de haver voto
útil à esquerda. Passamos a ser mainstream sem deixar de ser quem somos.
– Mas para isso o governo PS vai ter de
cair para o ano que vem.
– E vai cair. Não vai ser carne nem
peixe. Vamos todos cozê-lo em lume brando…
– Mas não o podemos fazer cair.
– Por isso é que o Marcelo tem de ganhar.
– O Marcelo?
– O Marcelo.
– …
– Se o Marcelo ganhar, a direita tem
legitimidade para dizer que o país mudou, que a esquerda precisa de ser re-legitimada,
que precisamos de ir para eleições. Nessa altura, temos de pedir uma
clarificação ao PS: ou bem que governa com a esquerda à esquerda ou bem que nos
esquece, porque não cumpriu os compromissos e anda a ziguezaguear e a levar o
país para o pântano.
– Mas para isso o país também vai ter de
estar pior.
– Isso é evidente e vai estar mas a culpa
não vai ser nossa. É que, entretanto, nós fomos dignos representantes da
esquerda, não capitulámos, nem tirámos o tapete ao Costa, ele é que não foi
quem diz ser. Quis ser primeiro-ministro, para quê? Quis unir a esquerda e,
entretanto, foi governando sem rumo. Nas próximas eleições comemos-lhe entre
mais 5% a 10% do eleitorado à esquerda. Há muita gente que ainda não vota em
nós mas que, daqui a seis, oito meses, não tem razões para não o fazer.
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