O homem baixou-se,
agarrou um seixo e lançou-o com força tentando com que ele deslizasse na água. O
seixo bateu uma vez e continuou, bateu outra vez e continuou, bateu mais uma
vez e afundou-se. Ele censurou a água e o seixo, culpando-os pela fraca
prestação da pedra. Esfregou as mãos uma na outra, limpando-as, como teria
feito Pilatos se não lhe tivessem levado uma bacia com água, pô-las nos bolsos
e afastou-se da água.
A mulher, que
tinha vindo com ele, ainda abanava a cabeça para um lado e para o outro quando
ele a encarou.
– A pedra não
era boa – justificou-se ele, encolhendo os ombros.
A mulher esboçou
um sorriso de troça que corrigiu para uma, pouco credível, expressão de
compungida compreensão e perguntou num tom lamentoso:
– E agora, já
nos podemos ir embora?
O homem tornou a
encolher os ombros que acompanhou com uma careta desengraçada. – Por mim…
A mulher
suspirou, olhou para o copo de champanhe meio vazio que tinha na mão direita,
procurou bolhinhas sem as encontrar e pousou o copo na areia.
– Queres o teu? –
Perguntou quando se endireitou, esticando o copo que tinha na mão esquerda na
direcção dele.
O homem abanou a
cabeça negativamente e, sem um olhar ou uma palavra, começou a caminhar em
direcção ao restaurante.
A mulher pousou
o copo dele ao lado do seu com cuidado e ergueu-se sem sair do lugar. Surpreendida,
viu-lhe as costas direitas e o andar decidido e, para além dele, as luzes do
restaurante onde estavam a passar a consoada. Atónita, ainda o viu chegar à
escada de madeira que dava acesso à sala onde estavam e subir sem olhar para trás,
até que, sem o querer ver mais, baixou os olhos para os copos e os viu estupidamente
juntos e desagradavelmente equilibrados. Então, num repente, dobrou-se, agarrou
no copo dele e lançou-o com força pelo ar. Viu-o voar, perdendo o líquido
conforme volteava no ar e, sem conseguir evitar um sorriso, viu-o aterrar
intacto na areia. “O copo não tem culpa e, além do mais, alguém podia cortar-se”,
pensou para justificar o sorriso: uma parte de si queria muito que o copo se partisse.
– Então? – perguntou
o homem, do cimo das escadas e agarrado à maçaneta da porta lateral do
restaurante.
A mulher, ainda parada
ao lado do seu copo, levantou a mão num aceno indiferente e sorriu com malícia,
comprazendo-se nas várias possibilidades que imaginou para o aborrecer. Prejudicar.
Magoar. “Sentimentos muito próprios da quadra”, ironizou para si, reforçando o
sorriso.
– Vou já – disse a mulher, com veludo na voz, um brilho nada natalício no olhar e, depois de um ligeiro toque no copo, tombando-o, voltou à ceia de Natal, sempre a sorrir.
– Vou já – disse a mulher, com veludo na voz, um brilho nada natalício no olhar e, depois de um ligeiro toque no copo, tombando-o, voltou à ceia de Natal, sempre a sorrir.
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