– Ó mãe, tem
de se rir assim? – queixou-se ele, antes de fechar os olhos, resignado, pronto a abandonar-se ao desalento.
A mãe ria com
gosto, ruidosa e espalhafatosamente. A nora, irada e envergonhada, continha, a
custo, as lágrimas. O enteado sorria apalermado, como era hábito. E o padrasto,
bem bebido, dormia.
A mãe puxou-o
para si e abraçou-o ternamente, soltando uma forte gargalhada. A avó,
embevecida, sentiu os olhos embaciarem e recolocou a placa, incrustando-a no
maxilar superior com a ponta do polegar e limpou a unha no rebordo dos dentes.
O avô babava-se e batia ritmicamente com a mão no braço do sofá, encostado à
perna da cadeira do compadre que o olhava mas não via.
– Ó mãe,
porra! – exclamou ele, aproveitando o momento de alento e firmeza que o
encontrão que a companheira lhe desferiu, arremetendo o ombro direito contra as suas costas, lhe deu. – Cale-se!
Mas a mãe só o
abraçou com mais força sem parar de rir.
Ele soltou-se
e pediu: – Cale-se, por favor...
– num fio de voz que se sumiu quando viu a companheira bater com a porta da
cozinha, agitando a cabeça como se negasse esmola a um mendigo, e deixou-se
ficar, em pé, imóvel. Firme e hirto como uma barra de ferro.
A mãe baixou
os olhos, contemplou a fraca figura do filho e, numa gargalhada, disse:
– És mesmo
como o teu pai que Deus tem!
O enteado
curioso, procurou o alvo do olhar da avó emprestada, viu a escura mancha à
volta da braguilha e, divertido, fez uma careta.
– Um triste e
desgraçado ejaculador precoce – continuou a mãe. – Olha para essas calças! – E
tornou a abraça-lo como se o quisesse fazer desaparecer.
"Se fosse
só a mancha..." ponderou o enteado, conhecedor e condoído, "A esta
hora já tem os bolsos todos colados e os boxers a escorrer."
Envolvido pelo
poderoso braço direito materno, ele tornou a fechar os olhos e ajeitou-se ao
abraço da mãe, sentindo-lhe o peito quente e procurando esquecer a vergonhosa
mancha nas calças e o desconforto de sentir a substância pegajosa alastrar e
tolher-lhe os movimentos, enquanto amalgamava, colava e arrepanhava pintelhos e
boxers. O barulho que a companheira fazia na cozinha com a loiça e com as
cadeiras e o risinho abafado do enteado, faziam-no desejar ficar ali para sempre
ou, pelo menos, até a mancha secar.
“O que
acontecer primeiro”, pensou. "O que acontecer primeiro..."
Sem comentários :
Enviar um comentário