O supremo líder
deixou-se cair na sua enorme poltrona, acomodou-se com vagar até se sentir
confortável e, depois, passou a mão direita pelo queixo, dando sinal que estava
a pensar. Os dois ministros que o acompanharam até à sala privada e se
mantinham em pé como soldados numa parada a aguardar ordens, tinham as cabeças
baixas mas seguiam disfarçadamente, com atenção e temor, todos os movimentos do
chefe.
Pensativo, o supremo
líder esticou as pernas, pousou os cotovelos nos braços da poltrona e
entrelaçou as mãos por cima da proeminente barriga.
– Juntem-se mais
– ordenou aos ministros, que se aproximaram um do outro. – Não, encostem-se mesmo
– vociferou, abanando a cabeça com uma careta de profunda insatisfação. Os dois
homens encostaram-se um ao outro. O líder suspirou enfastiado. – Tu: levanta o
braço direito. Tu: o esquerdo. Estiquem as mãos e encostem as pontas dos dedos
por cima das cabeças.
Os homens
fizeram como lhes foi ordenado.
O supremo líder
passou a mão pelo queixo, deixou de olhar para os homens e estudou a sala com
minúcia, como se procurasse qualquer coisa.
– Vão para ali –
disse, sem olhar para os homens, apontando com a cabeça para o canto da
sala à sua direita. Os homens sem desfazerem o triângulo que os seus braços
compunham, dirigiram-se para o local indicado, em passos laterais sincronizados.
– Aí – gritou. Os ministros estacaram, hirtos.
O supremo líder
mandou-os avançar um passo e, com ar pouco convencido mas em silêncio,
levantou-se e caminhou até à porta fechada por onde os três haviam entrado. Os dois
homens entreolharam-se quando ele ficou de costas mas não se mexeram. O supremo
líder rodou a maçaneta, admirando-se com a precisão do mecanismo e a facilidade
de manuseamento do objecto, abriu a porta e saiu da sala privada para a sala de
audiências.
– Nunca tinha
visto o supremo líder abrir uma porta – murmurou o ministro do braço direito
levantado. O do braço esquerdo erguido concordou com um grave aceno da cabeça.
Na grande sala
de audiências, o supremo líder rodou sobre si próprio, puxou a porta para si,
fechando-a, sorriu agradado com a simplicidade e eficácia dos gestos, fez uma
ligeira vénia à porta fechada e, feliz, tornou a rodar a maçaneta, a abrir a
porta e a entrar na sala privada. Encarou os dois homens, que se mantinham exactamente
no mesmo sítio e posição em que os deixara. Deu um passo para dentro da sala e
parou, meditativo. Após uns instantes em que só mexeu os lábios, numa sequência
que começou com um ostensivo torcer desagradado e acabou num ligeiro descair de
resignação, anunciou:
– Este ano vamos
ter uma árvore de Natal.
O supremo líder
fez uma pausa para estudar as expressões dos subordinados em resposta ao
anúncio que acabara de fazer, mas estes baixaram a cabeça assim que sentiram o
olhar perscrutador do líder, e ele, ainda reconfortado com a eficiência da
maçaneta e com o facto de a Sony ter cancelado a exibição da comédia que o
retratava como um tiranete de pacotilha retardado e vicioso mas que não tinha
piada nenhuma (que era o que mais lhe custava), dirigiu-se à poltrona e continuou:
– E vai ficar
exactamente aí onde estão. – Lançou novamente todo o seu peso para cima da
poltrona e sentou-se. – E vocês só saem daí quando a árvore estiver feita. – Os
homens anuíram com uma vénia. Ele passou a mão pelo cabelo, esticou as pernas para
olhar para os sapatos, gritou a pedir que lhe chegassem o banco que estava ao seu
lado para pousar os pés e recostou-se para repousar. – Tratem disso imediatamente
– determinou, com os olhos já fechados.
Um serviçal
entrou silenciosamente por uma porta lateral, agarrou no banco, levantou as
pernas do supremo líder e pousou-as com ternura na almofada.
O supremo líder entreabriu os olhos e suspirou agradado, então fixou-se nos ministros, que faziam sinais aflitos ao serviçal para se aproximar, e, num ronrono maldisposto, mandou-os parar e limitarem-se a piscar os olhos sem parar como se fossem as luzes da árvore de Natal.
O supremo líder entreabriu os olhos e suspirou agradado, então fixou-se nos ministros, que faziam sinais aflitos ao serviçal para se aproximar, e, num ronrono maldisposto, mandou-os parar e limitarem-se a piscar os olhos sem parar como se fossem as luzes da árvore de Natal.
Sem comentários :
Enviar um comentário