Ana, que o ouvia
com atenção, deu uma gargalhada e, rindo, pousou a sua mão sobre a dele.
Bento, também a
rir, foi surpreendido pelas duas mãos pousadas uma sobre a outra na toalha
branca da mesa entre os pratos da sobremesa e, sem dar por isso, esqueceu-se de
rir e ficou com ar pasmado e um sorriso satisfeito.
Ele não. Ele sentiu
o calor da palma da mão dela nas costas da sua a espalhar-se por todo o corpo e
a materializar-se num súbito nó na garganta mas fez uma cara ainda mais séria –
gostava de dizer as coisas engraçadas com o ar mais sério do mundo – e quando olhou
para Ana fê-lo com gravidade teatral que só o brilho dos olhos atraiçoava. Ana
sorriu-lhe.
Bento olhou para
Clara, que ainda ria sem ver nada, e, quando os olhares se cruzaram, piscou-lhe
o olho e desviou os olhos para as mãos de Ana e Dinis uma sobre a outra. Clara seguiu-lhe
o olhar e, feliz, sorriu para Ana que lhe retribuiu o sorriso. Dinis continuava
sério, compenetrado, mas os seus olhos brilhavam e riam.
– Arranjem um
quarto – gozou Bento, batendo com o cotovelo no braço esquerdo de Dinis. – Não
percam mais tempo!
Dinis corou, Ana
não, esmoreceu só o sorriso como se lhe ficasse bem ficar ligeiramente
envergonhada.
– Oh Bento… –
recriminou Clara, divertida com o ar tenso de Dinis.
– Vão-se embora
– continuou Bento, com o mesmo tom galhofeiro. – Deixem lá isto que eu pago. –
Bento abarcou a mesa com um gesto largo do braço e riu. Dinis, no meio da sua
composta seriedade, percebeu que esperava com impaciência um sinal de Ana. – Vão-se
embora – repetiu Bento, peremptório.
Ana olhou para
Dinis, que olhava para ela como se estivesse prestes a ser fulminado por uma
revelação. Ana ergueu as sobrancelhas e Dinis foi fulminado pela revelação que
esperava e levantou-se como se a cadeira tivesse molas no assento. Ana, sem lhe
largar a mão, abriu um sorriso radioso e levantou-se atrás dele. Despediram-se
dos amigos em silêncio e com sorrisos comprometidos. Clara disse-lhes qualquer
coisa mas eles não a ouviram e seguiram de mãos dadas para o átrio.
– Não te
ouviram, Clara – disse Bento, trocista. – Eles já não ouvem
nada.
Clara assentiu
com a cabeça e encolheu os ombros.
– Deixá-los! –
Clara abriu mais o sorriso que nunca a abandonava. – Com a leveza que ele ia,
não precisa do andarilho para nada… Só os ia estorvar.
3 comentários :
Giro.
Adoro as partes dos olhos que riem!
amor e/ou desejo... não têm idade!
Sim, também concordo, a idade jamais deverá ter a possibilidade de se tornar uma limitação!
Era o que faltava!
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