quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Acessório

Ana, que o ouvia com atenção, deu uma gargalhada e, rindo, pousou a sua mão sobre a dele.
Bento, também a rir, foi surpreendido pelas duas mãos pousadas uma sobre a outra na toalha branca da mesa entre os pratos da sobremesa e, sem dar por isso, esqueceu-se de rir e ficou com ar pasmado e um sorriso satisfeito.
Ele não. Ele sentiu o calor da palma da mão dela nas costas da sua a espalhar-se por todo o corpo e a materializar-se num súbito nó na garganta mas fez uma cara ainda mais séria – gostava de dizer as coisas engraçadas com o ar mais sério do mundo – e quando olhou para Ana fê-lo com gravidade teatral que só o brilho dos olhos atraiçoava. Ana sorriu-lhe.
Bento olhou para Clara, que ainda ria sem ver nada, e, quando os olhares se cruzaram, piscou-lhe o olho e desviou os olhos para as mãos de Ana e Dinis uma sobre a outra. Clara seguiu-lhe o olhar e, feliz, sorriu para Ana que lhe retribuiu o sorriso. Dinis continuava sério, compenetrado, mas os seus olhos brilhavam e riam.
– Arranjem um quarto – gozou Bento, batendo com o cotovelo no braço esquerdo de Dinis. – Não percam mais tempo!
Dinis corou, Ana não, esmoreceu só o sorriso como se lhe ficasse bem ficar ligeiramente envergonhada.
– Oh Bento… – recriminou Clara, divertida com o ar tenso de Dinis.
– Vão-se embora – continuou Bento, com o mesmo tom galhofeiro. – Deixem lá isto que eu pago. – Bento abarcou a mesa com um gesto largo do braço e riu. Dinis, no meio da sua composta seriedade, percebeu que esperava com impaciência um sinal de Ana. – Vão-se embora – repetiu Bento, peremptório.
Ana olhou para Dinis, que olhava para ela como se estivesse prestes a ser fulminado por uma revelação. Ana ergueu as sobrancelhas e Dinis foi fulminado pela revelação que esperava e levantou-se como se a cadeira tivesse molas no assento. Ana, sem lhe largar a mão, abriu um sorriso radioso e levantou-se atrás dele. Despediram-se dos amigos em silêncio e com sorrisos comprometidos. Clara disse-lhes qualquer coisa mas eles não a ouviram e seguiram de mãos dadas para o átrio.
– Não te ouviram, Clara – disse Bento, trocista. – Eles já não ouvem nada.
Clara assentiu com a cabeça e encolheu os ombros.
– Deixá-los! – Clara abriu mais o sorriso que nunca a abandonava. – Com a leveza que ele ia, não precisa do andarilho para nada… Só os ia estorvar.

3 comentários :

Anónimo disse...

Giro.
Adoro as partes dos olhos que riem!

Anónimo disse...

amor e/ou desejo... não têm idade!

Teresula disse...

Sim, também concordo, a idade jamais deverá ter a possibilidade de se tornar uma limitação!
Era o que faltava!