quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A Espuma dos Dias (xiii. fim)

Quinta-feira. 26/11/2015. 11:55

O engenheiro olhou para o advogado com ar de gozo. O causídico arregalou as sobrancelhas e desafiou:
– Diga lá, engenheiro…
O engenheiro abanou a cabeça, com uma expressão contida:
– Não é nada.
– Diga lá, homem – insistiu o advogado. – Desembuche!
O engenheiro abriu um enorme sorriso mas não disse nada.
– A coisa correu mesmo bem, hã? – lançou o advogado, arrumando os papeis.
– Bem?! – riu-se o engenheiro. – Melhor era impossível, doutor. Oiça o que eu lhe digo, melhor era impossível!
– E a van Dunem?
– Ó doutor, essa é a cereja no topo do bolo. – O engenheiro levantou-se. – E, ainda por cima, ninguém pode dizer nada, doutor. Nada!... Ninguém pode dizer nada!
– A Alda disse-me que a Fernanda pôs no twitter que era uma grande notícia e a Estrela que melhor era difícil.
– Eu vi. Eu vi. – O engenheiro piscou o olho, fez uma careta e, com um súbito ar sério e compenetrado, declarou: – Mas isso foi porque era uma mulher e negra, doutor. Esses comentários resultam do avanço civilizacional que a nomeação da mulher encerra. Só isso. Aliás, logo à tarde, todas as almas progressistas deste país vão ficar emocionados quando ela tomar posse. Todas!
O advogado concordou com um aceno grave e circunspecto.
Os homens olharam então um para o outro e desataram a rir à gargalhada.


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