Leandro calou-se e não disse mais nada.
Lucas falou enquanto conseguiu:
falou de tudo e de nada; perguntou e quis saber; respondeu a si próprio e opinou; falou,
falou e falou.
Luís gostou do silêncio respeitoso
e educado de Leandro e irritou-se com a prosápia sem nexo de Lucas, a quem
nunca respondeu mas que deixou falar até se calar.
No fim, Luís
suspirou, pegou no telemóvel e escreveu: “Feito.”
Num instante, responderam-lhe: “Boa!”
Satisfeito, Luís baixou a cabeça como
fizesse uma vénia de agradecimento ao telemóvel e pô-lo no bolso. Em acto contínuo,
retirou o silenciador da arma, rodando-o displicentemente mas com a competência
de muitas repetições, e guardou-o no bolso interior do blazer, depois de o
soprar duas vezes. Soprou o cano da arma também duas vezes, uma por cada um dos
mortos, e arrumou-a no coldre sovaqueiro. Ajeitou a camisa e o nó da gravata, fechou
o casaco, assumiu um ar com que se achava distinto e importante e olhou para
Leandro e Lucas à espera de um elogio. “Mesmo que estivessem vivos e com saúde,
estes palermas não haviam de reconhecer a distinção e o bom-gosto nem que disso
dependesse as suas vidas”, gracejou para si. Então, retirou o telemóvel do
bolso, desbloqueou-o, virou-o, esticou o braço, compôs uma expressão dura para a câmara
e carregou num botão, fazendo o flash disparar.
– Uma selfie, palhaço?! – Gorgolejou
Leandro, enquanto levantava com dificuldade o revólver apontando-o a Luís, que,
sem reacção, mantinha o braço esticado. – Tira outra, anda!... Agora!
1 comentário :
;-)
Enviar um comentário