sexta-feira, 8 de abril de 2016

O "Caso das Bofetadas"

Lisboa, 7 de Abril de 2016. 20:15 h.

– Mas isso foi o sms que foi para o Expresso – reclamou o Soares.
– Um sms aparvalhado – insistiu o Costa, com cara de poucos amigos. – Podia ter deitado tudo a perder.
O Soares amuou, ficou a olhar para o Primeiro, como se estivesse a ponderar se o havia de esbofetear ou não, e, por fim, perguntou com a voz embargada:
– Tu não falaste com o Galamba durante o dia, pois não?
O Costa acenou negativamente e concretizou:
– Só falámos a meio da manhã… Vou falar agora a seguir.
– Mas sabes que ele aprovou o meu texto?
– Sei, claro que sei e também concordei que era o fait-divers ideal para o dia de hoje – respondeu o Primeiro, mais descontraído com a menção ao Galamba. – E resultou, João, as tuas bofetadas foram a cortina de fumo perfeita: quase nem se falou do Draghi, do almoço ou do Conselho de Estado e nem da PJ ou da Interpol. Foi um dia de salutares bofetadas, seja lá o que isso for. – O Costa sorriu, deu uma pancadinha amigável no braço do Soares e concluiu: – Foi perfeito, a coisa correu especialmente bem mas o sms parece-me que era escusado, João.
– Mas foi ele que escreveu o sms – respondeu de pronto o Soares.
– O Galamba?!
– Sim, eu falei com ele e ele disse-me que a coisa estava a correr lindamente, tudo como se queria mas que estava a esmorecer rápido demais, que era preciso mais lenha na fogueira. Uma coisa simples mas composta, dúbia e com alguma graça…
– Tudo coisas que a ti não te assistem – implicou o Costa que, bem-disposto e seguro desde que soubera da intervenção do Galamba no sms, já era todo sorrisos. O Soares fulminou-lhe as luzidias bochechas com um olhar esbofeteador, a que o Costa respondeu com um piscar de olho cheio de maus sentimentos e um sorriso trocista. O Soares resfolegou baixinho e pôs a viola no saco. Satisfeito, o Costa deu o assunto por encerrado:– Vamos mas é embora que ainda temos de ir ao teatro
– Eu não vou – murmurou o Soares, cabisbaixo. – O Galamba disse-me para pedir desculpas formais e ficar em casa, como se estivesse de castigo… Temos de dar a ideia de que estamos a conter danos. Ou melhor, que tu estás a conter danos e a pôr-me no lugar.
O Costa riu com vontade mas depois pôs-lhe a mão no ombro, confortando-o e disse-lhe:
– Não fiques assim. Acho que já há qualquer coisa com a Joana Vasconcelos que já te está a tirar o lugar nas redes sociais. Amanhã a coisa está arrumada e tu continuas ministro. – O Soares levantou a cabeça e o Costa sorriu-lhe, sem mostrar os dentes. – Eu, entretanto, vou falar com o Galamba para confirmar as coisas, ficar a par da estratégia e dos resultados… e para saber o que hei-de dizer quando sair do teatro – riu-se como se o que dissera tivesse graça. – Então, até amanhã – e terminou a despedida com duas salutares palmadinhas na bochecha esquerda do Soares, que as encaixou com esforçado fair-play.

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