Passei
o tempo todo atrás dela. A máquina fotográfica mudou-a, deu-lhe uma energia
inesgotável. Subíamos, descíamos, entravamos, saíamos. Não parávamos mais do
que o tempo necessário para focar e tirar a fotografia. As fotografias. Na
verdade, não víamos nada, não conhecíamos ou apreendíamos o que quer que fosse
dos lugares que ela fotografava. Às vezes, chamava-me e punha-me ao seu lado,
esticava o braço e tirava-nos uma selfie. Levantava ou baixava o braço para
apanhar o que ficava por trás de nós mas nunca me perguntou se eu estava a
gostar ou se queria assim ou de outra maneira. De vez em quando beijava-me nos
lábios antes de continuar mas fazia-o como se me felicitasse pelo meu bom
comportamento; como quem afaga um cão obediente. Eu seguia-a e ia vendo, a custo,
o que conseguia. Gostei particularmente de Ronda. Da ponte, das esplanadas, da
praça de touros e das vistas. Das pessoas e do movimento. De me apontarem e de
erguerem o polegar com um sorriso cúmplice enquanto olhavam para o véu. Alguns
tinham de olhar em volta à procura da noiva e encontravam-na sempre a
fotografar ou à procura de motivo para o fazer. Eu continuei atrás dela. Sorri
quando foi preciso e dei-lhe água e mantimentos. Reabasteci a mochila e
assegurei-me que o véu estava bem atado. Sempre. Estava permanentemente atento
e nunca lhe faltou água fresca, um chocolate, uma barra energética ou um
sorriso nas selfies. E o véu correu meia Europa sem se
rasgar, nem se perder. À noite víamos as fotografias e ela passava-as para o
portátil e adormecíamos de exaustão. No fim, acho que a lua-de-mel foi boa,
muito boa e temos o véu, a mochila e milhares de fotografias de lugares onde,
realmente, não estivemos, nem conhecemos, o que, provavelmente, também não faz
diferença nenhuma.
Ah…
e agora que já passaram quase dois meses e estamos mais descansados, julgo que um dia
destes consumamos o casamento.